Review – Flicker – Niall Horan

Na última sexta-feira 20 de Outubro de 2017 o cantor Niall Horan debutou no mercado musical o seu primeiro álbum Flicker, ele foi o primeiro integrante do grupo a lançar um single e anunciar uma carreira solo após o hiato indeterminado do grupo One Direction.

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Niall James Horan, conhecido profissionalmente como Niall Horan, 24 anos, é um cantor, compositor, guitarrista irlandês conhecido por ser integrante do grupo musical One Direction. O grupo musical iniciou suas atividades ainda no programa de competição musical The X Factor em 2010 no Reino Unido. Niall juntamente com os outros integrantes Harry Styles, Louis Tomlinson, Zayn Malik e Liam Payne entraram na competição como artistas solo e foram eliminados na categoria “garotos” para continuar na competição, porém, os juízes Nicole Scherzinger e Simon Cowell tiveram uma sugestão deles formarem um grupo (boyband), sendo assim, foram classificados na categoria “grupos”. Posteriormente, o grupo se reuniu por duas semanas para se conhecerem melhor e trabalhar juntos. Sobre o nome, quem teve a ideia de chamar o grupo de “One Direction” foram Simon Cowell e Harry Styles. O grupo acabou em terceiro lugar no programa, atrás de Matt Cardle e Rebecca Ferguson. 

O grupo saiu do The X Factor com um grande sucesso, tanto que com a força das redes sociais seus dois álbuns, Up All Night (2011) e Take Me Home (2012), quebraram muitos recordes, além de alcançar o topo das paradas pelo mundo todo, e gerou singles de sucesso, incluindo “What Makes You Beautiful” e “Live While We’re Young”. Muitas vezes foram descritos como os novos “The Beatles”, o grupo provocou o ressurgimento do conceito boyband e de fazer parte de uma nova “Invasão Britânica”, sucedendo os The Beatles e as Spice Girls. Além disso, o grupo entrou para o livro dos recordes, o Guinness Book, com seis recordes mundiais jamais alcançados por qualquer outra boyband. Até Novembro de 2016, a banda já havia vendido aproximadamente 70 milhões de discos e singles em todo o mundo, sendo vinte e seis milhões apenas nos EUA.

2015 American Music Awards - Arrivals

Em sua carreira como membro da banda One Direction, ele tem canções de co-autoria, como “Taken”, “Everything About You”, “Same Mistakes”, “Back for You” e “Summer Love”, presentes nos álbuns Up All Night e Take Me Home. Ele também co-escreveu as canções “Don’t Forget Where You Belong”, “Why Don’t We Go There” e “Story of My Life” para o álbum, Midnight Memories, “Night Changes”, “Fool’s Gold” e “Change Your Ticket” para o álbum, Four, “Wolves”, “A.M.”, “Temporary Fix” e “Never Enough” presentes no quinto álbum da banda, Made in the A.M.

Um ano e um mês após o lançamento surpresa do seu primeiro single This Town, finalmente o álbum Flicker saiu.

 

On The Loose abre o álbum com uma melodia animada, um rock agradável com um violão  e baixo bem presente meio John Mayer e James Blunt (Faixa 1973), um efeito de ambiência na medida certa, ótimos efeitos de delay na guitarra, um bom refrão e um chorus sensual com uma vaga lembrança de Maroon 5. Uma ótima faixa para se tornar single.

This Town sucede a primeira faixa com uma proposta mais intimista, basicamente composta de voz centralizada, violão acústico e um piano suave como background juntamente com alguns elementos de bateria ditando o ritmo da canção. Existe uma ambiência mínima nas tracks de voz e piano, a música é promissora porém não tem tanto potencial ou é uma das melhores do álbum. Lembra muito The Way You Make Feel  do McFLY.

Seeing Blind começa numa pegada parecida com this town, uma intro de guitarra e um beat soando como bumbo de bateria, os primeiros compassos da música me lembram de cara A Thousand Years da cantora Christina Perri e conta com a colaboração da cantora Maren Morris que tem uma voz parecida justamente com a cantora da canção citada acima. Logo na primeira virada da música o ritmo toma um rumo mais folk com outros elementos de bateria como arranjo da música juntamente com  protagonismo das duas vozes e depois volta para um solo da cantora Maren Morris relembrando novamente A Thousand Years. Uma boa faixa, com um ritmo e melodia cativantes e fofos.

Slow Hands mantém o gancho do bumbo estilo folk presente na faixa anterior com um pouco mais de compressão, auto-tune, um pouco de sintetizador e dobras de voz durante a faixa. Pessoalmente eu acho que de uma forma geral é um bom single pra divulgação em rádio, mas eu me sinto muito incomodada com a quantidade de compressão que a voz do Niall e os instrumentos possuem. A voz dele soa completamente “robótica” e “dura”, não sinto a interpretação nessa faixa e não soa nada melodiosa. Parece bastante com Happy Pills da Nora Jones em termos de melodia e arranjo.

Too Much to Ask começa com um piano em ambiente fechado porém com um efeito reverb de leve e divide o protagonismo com a voz, mais uma vez Niall passa a sensação de intimismo na música com os elementos de arranjo bem presentes na mixagem da canção mas sem aquela sujeira musical, tudo bem distribuído de maneira perceptível. Pra mim é uma das melhores faixas do álbum e tudo soa pessoal e transmite o sentimento que a letra dispõe, ótima intro, ótima ponte e ótimo refrão. A voz fica um pouco mais aguda e delineada por compressão e auto-tune, no entanto sem exageros. Solo de guitarra bonito e vocal bem melodioso. Em resumo tudo funciona em harmonia e entrega o que falta em Slow Hands.

Paper Houses ainda seguindo a pegada folk acústica com um ar mais melancólico e arrastado dá espaço pra uma letra mais desiludida e triste. O arranjo em geral soa triste e abatido como a letra propõe mas eu não achei que o intérprete conseguiu alcançar essa mesma proposta na interpretação e no timbre da voz, porém, também não é uma coisa tão desconexa. 

Since We’re Alone demarcada a metade do álbum, nos primeiros acordes logo me trouxe a lembrança de Nora Jones e um pouco de Colbie Caillat. Aqui o gancho é mais parecido com On The Loose. Dobras de voz com uma ambiência + reverb mínimos , ritmo mais rápido e suave, refrões e backing vocals que remetem Bee Gees. Canção agradável, bem harmonizada, letra mais otimista e romântica.

Flicker é a faixa que leva o nome do álbum, possui uma atmosfera igual a de Paper Houses com uma letra triste e um ritmo lento, a influência do folk é menos perceptível e soa como um pop mais choroso, como o repertório de Adele. A track de violino ao fundo predominando o ritmo  dá o toque sensível que a melancolia da canção pede. No geral a música é bem mais clean e suave, a voz consegue entregar a sensibilidade, interpretação e sentimento necessários e que não foram notados em Paper Houses. Também acho que os elementos são bem distribuídos da melhor harmonia possível.

Fire Away tem uma combinação de elementos que me lembrou imediatamente algumas músicas de outros artistas como: Bad Day (Daniel Powter), Two Ghosts (Harry Styles), If I Could Fly (One Direction), Wish You Were Here (Avril Lavigne), Room On The 3rd Floor (McFLY) e Who You Love (John Mayer ft. Katy Perry) vagamente. Não que isso seja ruim ou genérico, são detalhes que a faixa possui e a mim remete a lembrança dessas outras músicas quando eu ouvi. O romantismo e confidência são os sentimentos transpassados novamente de maneira intimista na canção, um arranjo mais simples, poucos elementos, ritmo agradavelmente atenuante e uma voz mais sujinha com aquele aspecto opaco as vezes parecendo levemente rouca. Violão e bateria lado a lado dividindo espaço com a voz e dando brecha pra guitarra em alguns momentos. A Letra é simples, poucas estrofes, muita repetição de refrões e uma interpretação mais preguiçosa e desgastada, que parece ser a intenção da música. O conjunto da obra funciona, mas não impressiona.

You and Me mantém a dinâmica folk-pop com um vocal mais seco, rouco e comprimido. Melodia, ritmo e arranjo sensuais porém românticos. Aqui não tem muita diferença em questão de arranjo ou ambiência, continua aquela atmosfera pessoal e letra tom de uma proposta romântica e confidência. Linhas de baixo, guitarra e bateria presentes no estilo John Mayer. Harmonicamente organizada, agradável e com uns backing vocals legais.

On My Own muda quase completamente a sonoridade pra uma identidade musical influenciada pelo regionalismo irlândes com uma sombra ainda do folk nos graves da música. A guitarra mais distorcida, elementos parecendo pandeiro ao fundo e novamente o intérprete com a voz mas suja, grave, rouca e metálica cantando uma letra mais despojada e sincera. A letra é bem repetitiva mas funciona, tem refrões marcantes e o arranjo possui muitos elementos propositalmente misturados de uma forma não organizada. Pra mim essa foi uma das músicas mais legais do álbum por sair da zona de conforto do repertório e por ter tido a oportunidade de ouvi-la ao vivo no show com todos os instrumentos, foi bem emocionante e seria um bom single.

Mirros é a penúltima, a linha de guitarra e a melodia são parecidas com Temporary Fix do próprio One Direction, na verdade toda a faixa tem a sonoridade do grupo, em especial os álbuns Made in the A.M. e Four. É uma explosão de vozes, efeitos, reverb, instrumentos comprimidos e mixados de forma embaralhada e muita ambiência. O refrão tem um potencial poderoso e a voz aparece aqui bem maquiada pra soar aguda. Até a letra tem essa identidade descritiva narrada em terceira pessoa típica do repertório de sua boyband, poderia ser um single promissor tanto para o One Direction quanto para o Niall.

The Tide encerra a tracklist com dignidade porém sem novidade. A Letra tem um poder cativante e que tenta resgatar a esperança, o violino surge aqui de novo adicionando o toque apelativo de não destruir as expectativas do intérprete, segundo ele mesmo canta na música, mantendo uma gota restante de fé e torcendo pra que no final de tudo as coisas acabem bem. Gosto da maneira como a melodia e o arranjo complementam a letra e a voz, todo mundo ali tem algo pra contar, o piano e o violino contrastam com a brutalidade dos graves e da interpretação fugaz. Definitivamente você sente todos os sentimentos impressos na canção e é uma das melhores na minha humilde opinião. 

Foi uma surpresa muito boa ouvir o Flicker porque eu não esperava um repertório tão sensível e fora do contexto pop depois que This Town foi lançada como primeiro single, eu acho ela fraca como single mesmo sendo uma boa música. Sinceramente não coloquei fé na capacidade do Niall em fazer um bom disco e felizmente quebrei a cara. Notavelmente o repertório tem a identidade dele, embora eu tenha notado tantas referências ou semelhanças de outros artistas e até mesmo dos trabalhos dele como integrante do One Direction, não me pareceu genérico ou plagiado, acho que ele e o produtor Greg Kurstin souberam emular de um jeito “original”. É exagerado dizer que o conteúdo ficou repetitivo, a coerência sonora funciona dinamicamente bem planejada, sempre com ganchos ou linhas de instrumentos reutilizados. 

O único incomodo é a cronologia das músicas, ela não existe. A organização ficou de forma antológica e daria perfeitamente pra classificar cada uma mantendo a história do cd fluindo com coerência cronológica.

Flicker é cativante, romântico, despojado, simpático e fofo assim como o intérprete; Incrivelmente agradável com bastante potencial para mais alguns singles. Parabéns pelo debut Niall Horan.

 

Autoria de Dany Poynter

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