REVIEW – THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI

Depois de um hiato meio forçado eu estou de volta e agora é pra ficar, mesmo que o ritmo do site seja lento.

O Review de hoje é sobre o filme Three Billboards Outside Ebbing, Missouri anunciado em português brasileiro como Três Anúncios Para Um Crime e que teve estréia em 04 de Setembro de 2017 no Festival Internacional de Cinema de Veneza. O orçamento do filme está calculado em US$15 Milhões, teve sua estréia em território americano no dia 10 de Novembro de 2017, está concorrendo a 7 categorias da 90ª Edição do Oscar além de já ter conquistado 4 Golden Globes Awards, 3 Critic’s Choice Awards e 3 SAG Awards. 

Dirigido pelo vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem (Six Shooter – 2006) Martin McDonagh, o filme é roteirizado pelo próprio, produzido também por ele juntamente com Graham Broadbent e Pete Czernin; a Trilha Sonora é de Carter Burwell, Fotografia de Ben Davis e Edição de  Jon Gregory.

Produzido e distribuído pela Fox Searchlight Pictures o elenco conta com nomes consagrados do cinema como Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, John Hawkes, Peter Dinklage.

Sinopse: Uma mãe desafia pessoalmente as autoridades locais para resolver o assassinato de sua filha quando eles não conseguem pegar o culpado.

Como o próprio título do filme sugere, a história gira em torno da personagem Mildred (Frances McDormand) que resolve confrontar a eficácia e profissionalismo das autoridades locais após 7 meses da morte de sua filha, colocando então anúncios nos três Outdoors de uma velha rodovia perto de sua casa questionando o porquê de o crime ainda não ter sido resolvido e porquê ninguém parece fazer nada a respeito para dar desfecho a tal investigação. 

A atitude em si acaba desencadeando reações completamente inesperadas e até mesmo incoerentes, a mãe da vítima indignada pela morte da filha não ter sido vingada passa a se tornar o alvo de represálias na cidade, população esta que tem mais motivos para ofender Mildred e Apoiar o “injustiçado” Xerife Willoughby ao qual nem foi acusado de nada, apenas questionado. 

Evitando dar mais spoilers sobre o filme eu dou início ao meu review sobre a obra.

Classificado como Drama Policial e até mesmo Humor Negro, Três Anúncios para um Crime em suma é um filme que entrega o seu propósito principal que é a crítica social e estereotipada do perfil de cidadão americano, seus princípios, seus deveres e sua cultura moralista hipócrita, sobretudo se trata de perdão e complacência. Por mais que existam erros de sequência/cena, furos de roteiro ou cenografia, o longa tem uma boa narrativa, boas caracterizações e personagens. 

Tecnicamente falando eu gosto de como funciona a trilha sonora do filme, contando com faixas originais compostas e algumas canções já conhecidas que em algumas situações ajudam a completar a narrativa ou ditam alguns plano sequências. Captação de áudio completamente feita em cena, desenho de som é simples e satisfatório, nada que extrapole a realidade ou pareça artificial.

Rodado na Carolina do Norte o filme conta com locações e cenários reais, muitas cenas de plano aberto pra aproveitar as locações, cenografia um pouco minimalista. Na maioria dos cenários não se nota uma composição de cena muito detalhada ou específica. A fotografia quase sempre é opaca e desgastada com tons azuis ou terrosos, outrora temos uma contraposição de imagem com cores quentes e alta exposição, a cinematografia é trabalhada de forma bem sutil juntamente com a edição de som, sincroniza de maneira sagaz com os altos e baixos da narrativa.

Como já mencionado antes, existem alguns furos e erros mínimos na narrativa/roteiro mas não estragam o resultado, o filme tem ótimas atuações. Acredito que praticamente todo o elenco é bem caracterizado em seus personagens, o enredo é pesado por mais que aconteçam momentos de alívio cômico, tem vários plot twists que ditam o ritmo.

Um detalhe que me chamou a atenção são o número de vezes em que a bandeira americana aparece no filme, que juntamente ao enredo esse detalhe coloca em voga todo o tempo o questionamento sobre a  imagem do cidadão americano. O que ele realmente é ou deveria representar? Durante todo o filme nós somos submetidos a acompanhar esse ciclo de ódio, falsa moralidade e atos de benevolência que passam por cima das ações ruins dos personagens.

Mildred pode ser uma mulher dura ou ruim, mas toda hora seu caráter é colocado em questão quando a cidade inteira toma alguma atitude agressiva ou ignorante contra ela, o que a obriga a se defender, ser forte e revidar. Por outro lado é complacente, boa e compreensiva com todo mundo em momentos  de necessidade. Ela literalmente oferece o outro lado da face diversas vezes pra quem já fez alguma coisa contra ela. A atuação de  Frances McDormand é esplêndida e vai crescendo juntamente com a personagem, ela representa perfeitamente toda a dor, ódio, mágoa, tristeza,revolta, compreensão e amargura; uma mulher forte por fora mas ferida e sensível por dentro, completamente cativante e te faz compartilhar de todos esses sentimentos com ela.

Willoughby e Dixon são a contradição do que deveriam representar: Justiça e Integridade. Os atores entregam boas representações de seus personagens, tão convincentes que me fizeram sentir ranço e indignação da falta de comprometimento, falta de interesse e das suas ações corruptíveis. Infelizmente ambos são o retrato de uma realidade muito frequente na sociedade. Willoughby é o xerife relaxado que é adorado pela cidade, um homem de família despreocupado com as reais circunstâncias no local de trabalho e é colocado no papel de vítima quando vira alvo de questionamento nos anúncios de Mildred, então passa a usar a condição clínica como desculpa para o seu descaso a respeito da investigação da morte de Angela – o que parece ter virado apenas estatística na cidade, já que todo mundo age como se tivesse esquecido do ocorrido e passa a atacar a mãe da vítima e defender a autoridade da cidade com unhas e dentes. Dixon é o policial alcoólatra corrupto racista homofóbico machista que não trabalha, trata o xerife como ídolo, se comporta de maneira imprópria, não tem respeito ou educação, é impulsivo e abusa do poder como desculpa pra ser babaca. Cidadão este que é protegido pelos colegas de trabalho e seu adorado Xerife.

A história mantém essa inversão de valores e redenção de pecadores constantemente, tudo passa a girar em torno dos anúncios e como os moradores de Ebbing são afetados por tal circunstancia, enquanto o assassinato de Angela permanece esquecido e sem desfecho. O terceiro ato se encerra de forma aberta e subjetiva, sem conclusão, te dando margem para imaginar o que quiser e com a mensagem do perdão; Mesmo que algumas atitudes sejam injustas você acaba se colocando no lugar da protagonista e entendendo suas decisões. O roteiro trabalha de uma maneira inclusiva que te faz sentir e pensar mil coisas, te deixa com desejo de desfecho e sede de justiça.

Quero incluir elogios as atuações breves porém memoráveis do Peter Dinklage que foi maravilhoso mesmo com pouco tempo de tela mas com diálogos importantes, Caleb Landry Jones também tem cenas sensacionais e a Samara Weaving que trás o alívio cômico nas poucas cenas dela. 

Alguns elementos do filme me fizeram lembrar de Animais Noturnos, talvez seja pelo ritmo da narrativa. Existem muitas cenas e diálogos pesados ou tristes mas uma cena em particular acabou me pegando de jeito e me deixou muito sentida que é quando a protagonista vai colocar flores perto dos anúncios, um cervo aparece perto dela e ela começa a dialogar com ele e é tão tocante que eu comecei a chorar junto sem perceber. 

São muitas coisas a serem comentadas e refletidas sobre o assunto, as atuações, os personagens, as metáforas, controvérsias e tudo mais, porém eu sugiro que você assista ao filme e tire suas próprias conclusões.  Three billboards Outside Ebbing, Missouri é feito para refletir, é verossímil, é pesado, é pra sentir. Pode ser tecnicamente simples, entretanto coordena satisfatoriamente os seus aspectos e a história te deixa atento do início até o final inesperado.

 

 

Autoria de Dany Poynter